quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mensagem de Natal

Este rio onde navego
Tem águas esquisitas
P'ra uns mansas,não nego!...
P'ra outras bravas, malditas.

Meu bote de parcos meios
Tem rombos por todo o lado
Mas quem tem os bolsos cheios
Tem barco de bom calado.

Se não calo vou ao fundo
E se ficar caladinho
Como tantos neste mundo
Navego como um anjinho.

Anjinho não quero ser
Nem penso em naufragar
Levanto a voz p'ra dizer
Sem armas hei-de lutar.

Hei-de lutar e vencer
Hei-de vencer a lutar
Neste Natal vou dizer
Basta de tanto roubar.

Àquele que mais precisa
Rouba quem tinha o dever
De of'recer a camisa
A quem não tem que comer.

Vou lutar neste Natal
Contra esta crueldade
Da roubalheira legal
Da mentira ser verdade.

E contra os opressores
Que governam a nação
Hei-de semear as flores
Da nova Revolução!...

Feliz Natal e que no Ano Novo todos consigamos superar as nossas dificuldades.
A vida é uma luta, quem não lutar tem à sua espera um lugar no Céu, como Anjinho...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quem Sou

Sou um homem de 62 anos, nascido e criado na pequena Vila Nova de Erra, Coruche, onde fiz a escolaridade obrigatória da época, ou seja: A quarta classe.
Trabalhei dos 11 aos 60 anos, fiz a guerra colonial em Angola e vivo na Alemanha à mais de 37 anos.
Apesar de viver no estrangeiro à tantos anos, amo a minha terra acima de todas as outras.

Erra Meu Amor

Na minha juventude, antes de ter saído
Da minha hospitaleira Vila Nova
De Erra, achei esta saudade que renova
Meus laços de amor a este chão florido.

Semeei campos infindos como prova
De amor a esta terra, merecido
Prémio, por nela terem nascido
As flores, onde o poeta busca a trova.

Assim, "andarei por toda a parte"
Buscando novas formas amorosas
De encher as tuas ruas de saudade.

E quando encontrar a felicidade
Farei deste amor um mar de rosas,
Se p'ra tanto tiver "engeno e arte".

José Diogo Júnior

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Campina

A campina passa
Pela minha rua.
Vai cheia de graça
Alegrar a praça
Que parece sua.

Bons olhos te vejam
Na rua a passar.
Que teus passos sejam
Os que mais desejam
Vir aqui morar.

O teu andamento
Eu fico a olhar.
Cabeça de vento
É temperamento
Que sonho beijar.

Já no outro dia
À luz do luar.
Tua companhia
Traz a alegria
Para me alegrar.

Mas se te não vejo
Passar nesta rua.
Sinto o desejo
De deixar um beijo
À ausencia tua.

Lá vai a campina
Meu amor primeiro.
Alma tão traquina
Que já desafina
O meu corpo inteiro.

Ao ver-te passar
Meu rosto sorri.
Posso não falar
Mas fico a gostar
De olhar p'ra ti.


No chapéu ao lado
Penas de pavão.
Blusa de riscado
Que tem guardado
Tão bom coração.

Quem me dera tê-lo
Na palma da mão.
Poderia vê-lo
Para convencê-lo
Da minha paixão.

Aqui do postigo
Olhando p'ra ti.
Preso neste abrigo
A sonhar contigo
Foi que eu morri.

A campina passa
Vai de alma nua.
Já não tem a graça
D'alegrar a praça
D'alegrar a rua.

No seu peito a dor
Venceu a Beleza.
Morreu-lhe o amor
Perdeu esplendor
É uma tristeza.

Ao chorar contigo
Este pesadelo.
Por ser teu amigo
Fecho o meu postigo
Nada mais é belo.

Querida campina
Desta minha terra.
Alma bela, fina
De mulher ladina
Emblema da Erra.

José Diogo Júnior

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ruas da Minha Terra

Nas ruas da minha terra
Sinto ver o meu destino
Os sonhos que tive em Erra
Esses sonhos de menino

As ruas da minha terra
São gaivotas a bailar
Na saudade que soterra
Este choro, este cantar

Tão longe de vós
Só tenho a saudade
Que fica entre nós
E é como a voz
Da minha ansiedade

Não quero, não quero
Viver mais assim
Por vós desespero
Pois tudo o que eu quero
Está longe de mim

Ruas da minha "cidade"
Dentro do meu coração
São as mágoas da saudade
Deste povo meu irmão

Ruas da minha tristeza
Que são a minha alegria
Por ter em mim a certeza
Deste amor e nostalgia

Tão longe de vós
Só tenho a saudade
Que fica entre nós
E é como a voz
Da minha ansiedade

Não quero, não quero
Viver mais assim
Por vós desespero
Pois tudo o que eu quero
Está longe de mim

José Diogo Júnior

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Penas

Àqueles que destruíram um dos meus amores


Tenho pena de vós, tristes "anjinhos"
Movidos pela corda da vaidade
Não brota outra força, na verdade
De vossos corações tão pobrezinhos!...

Vossos olhos não querem ver...Ceguinhos
Jamais verão a clara claridade!...
Inimigos traiçoeiros d'amizade
Debaixo duma capa de santinhos!...

Sois os corvos negros, agoirentos
As serpentes do deserto repelentes
De humanos, belamente, mascarados!

Sois, ó gente triste, como os ventos
Furacões e tornados, atraentes...
- Com eles, ficais tão bem retratados!

José Diogo Júnior

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Perfeita e Cheia

Mote

Em tudo perfeita e cheia
De tão suave harmonia
Que, nem por pouca recreia
Nem, por sobeja, enfastia

Luís Vaz de Camões em Babel e Sião

Glosa

Minha terra é um amor
A perfeita nostalgia
Quer de noite, quer de dia
Sinto em mim o seu fervor.
Inesquecível esplendor
É um sol a minha aldeia
Nunca me sai da ideia
Por ser tão linda, tão pura
E pela sua brancura
Em tudo perfeita e cheia.

Na sua linda igreja
Em honra de S. Mateus
Os fiéis oram a Deus
Pelo pão que se deseja.
Para que ninguém esteja
Longe dessa alegria
Deus filho morreu um dia
Pelos maus crucificado
Deixando o ar perfumado
De tão suave harmonia.

Perfeito enamorado
Da terra onde nasci
Dela nunca me esqueci
Nem me senti olvidado.
Mas, procurando o passado
Em noites de lua-cheia
A minha paixão passeia
Silenciosa na rua.
É esta saudade tua
Que nem por pouca recreia.

Cá longe vou-me lembrando
De tudo o que lá vivi
Das saudades que reparti
P'los sonhos que fui sonhando
Pois sempre fui admirando
No calor de cada dia
Das "gentes" a alegria
Essa amizade que me dão
Que nem por pouca digo não
Nem por sobeja enfastia.

José Diogo Júnior

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Flor del Campo


                                                     Flor del campo, hermosa flor
                                                          Entre verdura criada
                                                       Flor del campo de mi amor
                                                          Flor de mi tierra amada

                                                          En las horas de soledad
                                                           Es la flor de mis sueños
                                                       Flor del campo de la verdad
                                                        Demis versos tan pequeños

                                                         Flor del campo, maravilla
                                                            De nuestra naturaleza
                                                      Flor del campo, flor que brilla
                                                           Flor de tan rara belleza

                                                              José Diogo Júnior

Poema editado na antologia poética Palabras Indiscretas, do Centro de estudios poeticos de Madrid Espanha

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um novo dia

                                              Anda à janela, vem ver
                                             Meu amor, um novo dia
                                              Neste lindo amanhecer
                                              Vê-se a cor da alegria

José Diogo Júnior

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Primeira Palavra

Mote

Disse a primeira palavra
Na madrugada serena
Um poeta que cantava
O povo é quem mais ordena

J. C. Ari dos Santos

Glosa

O povo é quem mais trabalha
E disso ninguém duvida
A não ser quem nesta vida
Por tudo e nada lhes ralha.
Gente reles e canalha
Que nossos campos não lavra
Mas produto da safra
Nas mãos lhes há-de parar
E um poeta a cantar
Disse a primeira palavra.

Longe vai a madrugada
Por muitos já esquecida
Onde arriscaram a vida
Capitães da alvorada.
Hoje, ninguém dá por nada
Acham que não vale a pena
Muita gente até condena
Quem se lembra, quem defende
Quem sabe,quem compreende
Na madrugada serena.

Não podemos esquecer
Quem por nós arriscou a vida
Podendo até ter guarida
Entre os donos do poder.
Esquecer? É reconhecer
Valor a quem nos tramava
A quem tudo nos roubava
Até mais não poder ser.
Surgiu naquele amanhecer
Um poeta que cantava.

Lembrar é contribuir
É dar um pouco de nós
É mostrar a nossa voz
É deixar a alma rir.
Pois ainda está p'ra vir
Daquela vila morena
A harmonia serena
Que faz a democracia
Onde cante a cotovia
O povo é quem mais ordena.

José Diogo Júnior

sábado, 2 de outubro de 2010

Quadras

Alegrias e tristezas
Quem as tem não as renegue
São forças e são fraquezas
Fugir-lhes não se consegue

Aquele ramo de flores
Tão enfeitado a preceito
Faz lembrar esses amores
A que não temos direito

Levas o púcaro na mão
A enfusa à cabeça
E dentro do coração
Nada que eu não mereça

O teu sorriso é bonito
Tua alegria tem graça
De amor tão louco fico
Que vejo o vento que passa

As penas do meu penar
Não são penas de escrever
São penas para chorar
Quando o deixar de fazer.

Há muitas sombras no mar
Muitas sombras há na terra
Mais formas há de amar
E de dizer não à guerra

Há verdades escondidas
Outras que ninguém quer ver
E mentiras divertidas
Mas que nos fazem sofrer

Eu hei-de estar a teu lado
Hei-de sentir e saber
O que é estar enamorado
E amar até morrer

O vento que à tua porta
Ia chorando ao passar
Levava a saudade morta
Que ali, eu fui matar

José Diogo Júnior

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Insónia

Tenho insónia, doi-me a cabeça
Não consigo mesmo adormrcer...
Levanto-me, ponho-me a escrever
Até que esta insónia adormeça.

Na planura da memória estou a ver
Um cavalo que galopa, sem cabeça
Que lhe doa. Corre, salta, não tropeça
Nesta insónia, na dor, neste sofrer.

Gostava de ser como tu meu corcel,
Galopar na planura deste papel,
Onde tento escrever o meu poema.

Cavalgando no campo do pensamento
Escrevo versos e só lamento
Que uma insónia seja o tema!

José Diogo Júnior

Saudade-Poesia

O sol desmaia no horizonte
Beijando este Odenwald* querido
Onde algures junto à fonte
Siegfried, diz-se, terá morrido.

Terra amiga, com a saudade defronte
Desta minha janela, onde tenho vivido
A sonhar com a casinha do monte
Onde é rei o alecrim. Comovido

Escrevo versos, cartas de amor
À saudade, minha companheira
Nas horas de solidao. Sem rancor,

Apaixonado, dou vivas à alegria.
Odenwald é digna da minha canseira
E  musa desta saudade-poesia.

* Odenwald: Concelho da Alemanha onde ocorreu saga de Nibelung, história de amor, eternizada no teatro, cinema e ópera.